Lagoa de Óbidos

Lagoa Azul

Sentado no alto do Facho,
Olho o mar, atento
Mar bravo, Mar salgado,
Mar de espuma branca,
Rosto fustigado por vento,
Mar da minha paixão,
Olhar mareado de homem mal-amado,
A Oeste as Berlengas,
Com a ilhota do Farilhão,
A Leste, algo muito belo,
A lagoa azul, de praias douradas,
Local de histórias e lendas,
De águas límpidas ao mar ligadas,
Abrigo de aves, moluscos e peixes,
Com floras exuberantes,
E anfíbios de toda a espécie,
Locais recônditos para os amantes,
Pôr-do-sol vermelho,
A velha Lagoa de Óbidos
Junto à Foz do Arelho.

João Ramalho, in 1ª Antologia “Letras da lagoa de Óbidos” de Miká Penha


É na região Oeste, entre São Martinho do Porto e o Cabo Carvoeiro, que encontramos uma das maiores e mais belas lagunas da costa portuguesa – a Lagoa de Óbidos.
Separa-a do oceano Atlântico uma barreira arenosa interrompida por um canal de ligação ao mar, localmente conhecido por “Aberta”, e que por vezes serpenteia, instável, na areia. É por ela que se dão trocas de água e de sedimentos entre laguna e mar, essenciais à existência das diversas formas de vida que aqui podemos contemplar.

Autoria - Carlos Gaudêncio


Devido à dinâmica das ondas e das correntes e ao transporte de sedimentos junto à costa, esse canal ou barra de maré por vezes fecha. Um fenómeno natural, mas cuja recorrência e consequências obriga, há mais de seis séculos, à intervenção humana para restabelecimento da ligação da laguna ao mar. Tenta-se assim prolongar a vida da Lagoa de Óbidos e manter práticas e atividades económicas que dela dependem e que se revelam fundamentais para a subsistência de muitas famílias da comunidade local.


Com uma área de 6,9 km2 e um perímetro de cerca de 22 km, a Lagoa de Óbidos abrange os concelhos de Caldas da Rainha (a norte), pelas freguesias da Foz do Arelho e do Nadadouro, e de Óbidos (a sul), pelas freguesias do Vau e de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. É uma zona húmida de particular interesse, tanto científico como lúdico, histórico-cultural, ambiental, económico e social.



Autoria - Município de Óbidos


Autoria - Vasco Trancoso



A Última das Lagoas…

A Lagoa de Óbidos nasceu há cerca de 5000 anos. Tal como outras lagunas, a sua formação deveu-se à subida do nível do mar no início do Holocénico e à posterior desaceleração desse processo, que levou ao isolamento de corpos lagunares em estuários e planícies próximos do mar.


Na acidentada costa Oeste, formaram-se assim três importantes lagunas com características semelhantes entre si - a Lagoa da Pederneira, a Lagoa de Alfeizerão e, um pouco mais a sul, a Lagoa de Óbidos – num processo que terá estabilizado há cerca de 3500 anos.


Pela sua natureza, a evolução destas lagunas dá-se no sentido do seu desaparecimento devido à sedimentação proveniente dos rios, à acumulação de sedimentos transportados pelo mar e pelo vento e a processos químicos e orgânicos. A médio ou a longo prazo, vão reduzindo em área ocupada e em profundidade, transformando-se em pântanos e depois acabando por secar. Foi o que aconteceu com as Lagoas da Pederneira e de Alfeizerão no século XVII.


Das três, a Lagoa de Óbidos é hoje a última laguna da região. Ocupa agora uma área pelo menos nove vezes inferior à inicial. Existem referências de que, outrora, chegara aos muros da vila de Óbidos. Sobreviveu à passagem do tempo, não porque a Natureza lhe tenha sido mais meiga, mas antes pelo resultado dos recorrentes esforços para restituição da sua ligação ao mar e, mais recentemente, de intervenções para remoção de sedimentos dos seus fundos.


Da área outrora inundada pela Lagoa de Alfeizerão, hoje restam apenas a concha de São Martinho do Porto, junto ao mar, e o Paul de Tornada, localizado a 7 km a nordeste da Lagoa de Óbidos. O Paul de Tornada e a Lagoa de Óbidos são as duas zonas húmidas mais importantes da região, com características bastante distintas mas ambas dotadas de flora e fauna de importância considerável, sobretudo no que respeita às aves.



Planta conjetural in “As três lagoas: Pederneira, Alfeizerão, Óbidos” de Joaquim Pereira da Silva



Autoria - Vasco Trancoso


De água salgada, a Lagoa de Óbidos é alimentada, de um lado, pela entrada de água do mar na Aberta e, por outro, pela água doce que provém da sua bacia de drenagem e que desempenha um papel fundamental no seu equilíbrio.

Com uma área total de 440 km2 a bacia hidrográfica da Lagoa de Óbidos abrange oito concelhos da região, sendo os mais relevantes os de Óbidos, Caldas da Rainha, Bombarral e Cadaval. Entre as várias linhas de água e sub-bacias que a compõem, destaca-se o rio Real, que nasce no alto da serra do Montejunto e que percorre 33 km até ao seu encontro com o rio Arnóia, junto à laguna.


Confluência do rio Real no rio Arnóia, junto à foz deste na Lagoa de Óbidos

Autoria - Vasco Trancoso


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